Os Leões de Porto Salvo são um dos clubes referência no Futsal a nível nacional. De resto, apenas o Clube Recreativo Leões de Porto Salvo e o SL Benfica têm as duas equipas principais (masculina e feminina) no escalão máximo da modalidade.
Mas para os projectos sustentados do futsal de elite, existe um trabalho desenvolvido de raíz que começa logo aos 5 anos com os petizes e passa por todos os escalões até aos Juniores. A Formação dos Leões de Porto Salvo, umas das mais prestigiadas da atualidade, tem um rosto na coordenação, Rodrigo Pais de Almeida.
Iniciou a sua carreira como jogador em Futebol 11, mas é no futsal que faz carreira e não como jogador, mas a treinar jogadores e agora também com funções de coordenação nos Leões de Porto Salvo.
Rodrigo Pais de Almeida atualmente coordenador do Futsal dos Leões e treinador Sub-20, fala-nos sobre a sua visão do desporto, da formação e da sua equipa.
LPS » Fala-nos um pouco da formação atual do plantel para esta época
RPA » Enquanto treinador dos SUB 20, o plantel de juniores esta época é um pouco mais extenso do que é desejável (20 jogadores) e do que queríamos e pensamos como ideal. No entanto, o alargar da idade de júnior de sub 19 para sub 20 “obrigou-nos” a ajustar a dimensão do plantel de forma a não penalizar quem é júnior de primeiro ano (afinal são quase 3 anos de diferença numa idade tão critica), e ao mesmo tempo em potenciar os juniores de 3º ano que achamos terem qualidades interessantes para um dia serem seniores do clube. Assim temos 6 jogadores juniores de 1º ano, 8 jogadores de 2º ano e mais 6 jogadores de 3º ano, em todas as idades com equilíbrio posicional dentro do próprio ano de nascimento.
No que respeita às minhas funções de coordenador o “plantel” de treinadores na formação do clube deste ano é vasto e muito rico em qualidade dos seus recursos. Não quisemos quebrar os laços humanos já existentes e por isso todos os treinadores foram convidados a continuar no clube, reforçando com alguns regressos e incursões novas no clube, mas quisemos e temos feito por isso, apostar na maior e melhor formação dos nossos treinadores, e temos promovido essa formação interna regularmente pois cremos que o que nos irá diferenciar e permitir formar melhor indivíduos e jogadores é a qualidade dos nossos treinadores.
LPS » Apesar de estarmos a falar de formação, onde outros valores desportivos e humanos são incutidos… Qual o objectivo para esta época?
RPA » No clube e na formação temos uma clara visão do que são as ambições da mesma. Se por um lado até ao escalão de sub 15 (iniciados) a motivação principal é formar além de seres humanos com valores e com uma postura irrepreensível é também formar bons jogadores com princípios tácticos e tecnicamente evoluídos e formatados para as especificidades da modalidade que é o Futsal, por outro lado sabemos que para juvenis e juniores (sub 17 e sub 20) já levamos em consideração um caráter competitivo essencial para a formação e maturidade do jovem praticante como um potencial integrante da equipa sénior masculina do clube que como sabemos milita no principal escalão da modalidade no nosso país.
Este padrão competitivo, a qualidade dos recursos humanos existentes (jogadores e treinadores) e uma clara aposta do clube na formação e na necessidade de termos cada vez mais jovens formados no clube na equipa sénior do mesmo, levou-nos inclusivamente a ter mais um treino semanal nesses escalões de forma a ajustar a realidade dos escalões aos objetivos propostos que são o CR Leões de Porto Salvo estar presente com regularidade nas taças nacionais de juvenis e subir o mais rapidamente possível ao recém formado campeonato nacional de sub 20. Julgamos, pela forma de estar desta equipa técnica, e pela qualidade e ambição do grupo de jogadores formado, que é possível chegar a esse difícil objetivo no decorrer da época em curso.
LPS »No teu ponto de vista como vês o estado atual da formação em futsal a nível nacional?
RPA » Vejo com alguma preocupação, no entanto considero que têm sido dado passos importantes para a evolução da modalidade, do rejuveniscimento necessário, mas também alguns “tiros no pé”, mas que julgo que rapidamente serão corrigidos.
Destaco a realização de Torneios Inter Associações de uma maior variedade de idades e de géneros (masculino e feminino) como um fator essencial no rejuvenescimento das seleções nacionais e assim da evolução da modalidade no panorama internacional ao médio prazo. Aliado a estes Torneios, a criação do Campeonato Nacional de Sub 20 é um passo de gigante para a importância da modalidade, independentemente da oportunidade que se criou e do ano em que se decidiu avançar, ter os melhores a jogar com os melhores em idades mais precoces será um dado adquirido a breve trecho (seja em sub 20 ou sub 17) e com esses índices competitivos conseguiremos com certeza ver jovens a atuar na 1ª Divisão Nacional de Seniores o que tem sido uma raridade no panorama do Futsal Português devido em parte ao deficit competitivo com que os jogadores chegam à idade sénior, e também, que sirva de auto critica à minha classe de treinadores, por temor dos próprios treinadores que por vezes temem lançar os jovens valores neste nível competitivo, e apenas o fazem por obrigações económicas.
No entanto, e apesar destes esforços, é importante vir mais abaixo e conseguir formar melhores treinadores, puxar mais público para a modalidade, e conseguir alguns apoios para a formação para que se consiga abreviar caminho e completar este árduo percurso. Os treinadores são o agente essencial de mudança da modalidade. São eles os grandes responsáveis pela evolução e crescimento da mesma, e apenas formando mais e melhores treinadores conseguiremos para o Futsal o estatuto que queremos quer a nível nacional (onde já é a modalidade de pavilhão mais praticada), mas também a nível internacional, com uma liga totalmente profissional e com jogadores e equipas capazes de disputar as maiores competições de clube e seleções conquistando títulos.
Com essa evolução e com maior apoio para os clubes (financeiro mas não só), a evolução deixará de forçada e será uma inevitabilidade.
LPS » Consideras que o investimento feito no Futsal na Formação pela entidades oficiais é suficiente, ou o que poderia melhorar?
RPA » Nunca é. Mesmo que nos equiparassem ao Futebol de 11, íamos sempre achar que era curto pois esse é o sentimento e a natureza do ser humano e em especial dos treinadores. Os treinadores, aqueles que querem evoluir pessoalmente e em equipa, têm de ser naturalmente e obrigatoriamente eternos insatisfeitos. As entidades oficiais têm apoiado, mas muito por força das atividades associativas, da “carolice” dos clubes e de quem os entrega, é que a modalidade tem continuado a evoluir.
O poder central em virtude da crise instalada no país tem se continuamente afastado da sociedade cível e do que são as principais motivações do ser humano social, e isso pode vir a trazer alguns “amargos de boca” pois esquecem-se de que por cada clube que fecha portas, são mais 100 ou 200 crianças que ficam na rua, ou em sítios pores do que a rua a praticar atos que não são propriamente saudáveis e socialmente bem aceites. Esperemos que a recuperação económica não seja uma utopia, e que permita também uma maior consciência das autoridades, e de apoio ao social e desportivo que rejuvenesça a nossa sociedade em idades, mas sobretudo em valores.
LPS » Quais os principais objetivos no trabalho que desenvolvem com a equipa?
RPA » O escalão de SUB 20 é um escalão de competição, ponto final. Não há muito por onde fugir desse tema. As nossas prioridades são essencialmente formar e fazer com que esses formandos cheguem um dia a equipa sénior do clube e conseguirmos que o clube esteja representado no Campeonato Nacional de Sub 20 o mais depressa possível.
Assim sendo, tentamos em conjunto com e Equipa Técnica dos Seniores Masculinos fazer um trabalho conjunto em termos de treino da equipa, e do modelo e ideia de jogo da mesma que permita a evolução do jogador e a sua integração imediata na equipa sénior. Não é por acaso que regularmente atletas deste escalão treinam e até jogam na equipa sénior do clube. Objetivamente passa por aí, mais do que formar, formar ganhando!
LPS » Os Leões são dos clubes que mais jogadores inscrevem na Federação a nível Nacional…. Achas que este facto deve-se a quê?
RPA » Esta é a minha 3ª passagem no clube, e a 2ª na formação, e desde que me lembre o CR LPS sempre foi o clube com mais atletas e equipas inscritas, federadas e a disputar as competições da AFL e da FPF. Tal facto deve-se em primeiro lugar a especialização que o clube decidiu ter. Os LPS são mais conhecidos pelo Futsal do que por qualquer outro motivo, é o Futsal que levou desde sempre o nome do Clube aos quatro cantos do país, e é nele que mais de 200 pessoas diariamente se dedica desde os jovens aos menos jovens, desde os jogadores e famílias aos treinadores e dirigentes. Esta especialização fez com que o clube quer no sexo masculino, quer no sexo feminino se implantasse na modalidade desde cedo, e hoje em dia é reconhecidamente uma das potencias nacionais em ambos os sexos.
Em segundo lugar graças aos seus Dirigentes e Associados. Por muitos treinadores, jogadores, familiares, etc que passam, que ficam, que saem, a aposta do clube sempre foi clara e coerente. Somos um clube de Futsal. Temos outras modalidades, algumas com campeões até internacionais, mas somos um clube de Futsal. Há quem o veja com preocupação, com algum receio, com alguma relutância, eu prefiro ver isso com um grande orgulho de pertencer e de trabalhar diariamente para que o continuemos sempre a ser, e cada vez com maiores e melhores resultados, que vão muito para além das vitórias ao fim de semana, vão pelo reconhecimento social do trabalho notável que as pessoas de uma forma benemérita fazem em prol da Sociedade, do Clube, da Modalidade e do Concelho.
LPS » Sabemos que os métodos de treino não só mudam de treinador para treinador, mas também de escalão para escalão…
Quais os objectivos técnicos e/ou tácticos que desenvolvem na tua equipa?
RPA » A nossa ideia de jogo é clara. Hoje que vamos para a 43ª Unidade de Treino da época 2014/2015 a equipa sabe o que tem de fazer no processo defensivo e ofensivo.
Vai continuar a evoluir, a ter mais autoconhecimento, automatismos, dinâmicas de jogo, mas vai sobretudo afinando essa ideia de jogo, melhorando/modificando pontualmente em função dos adversários, nunca se descaracterizando e afastando do que é o real propósito da mesma, ganhar sempre de uma forma honesta, leal e praticando um Futsal evoluído, competitivo e agradável a quem assiste ao espetáculo.
LPS » Sabemos que o acompanhamento dos Pais ao trabalho desenvolvido no clube é, na generalidade um acompanhamento presente. Por isso o que gostarias de transmitir aos Pais dos teus jogadores?
RPA » Agradecer aqueles que apoiam diariamente. O Clube e a Equipa viveria muito pior sem eles. Estas idades o acompanhamento é menor, nem todos conseguem estar presentes seja pelos horários tardios dos treinos seja pela necessidade que outros filhos mais jovens têm, mas os que estão presentes apoiam e acompanham de uma forma que não tenho espaço suficiente para lhes agradecer. A única forma de lhes agradecer é dando o melhor de nós (equipa técnica) todos os dias, todos os treinos, todos os jogos, de forma a proporcionar aos filhos uma experiencia competitiva e uma aprendizagem única, valorosa, e que os faça crescer do ponto de vista pessoal, desportivo e humano. Pensar em todos os pormenores do treino e do jogo, em todas as componentes individuais e coletivas dos filhos, integrando ao máximo os filhos no que se deseja ser uma equipa competitiva e “Semi Profissional” numa modalidade que exige uma constante evolução e adaptação ao jovem praticante, é a nossa forma de retribuir. É esse o nosso compromisso com os jogadores, e por inerência aos seus familiares e amigos.
LPS » E já agora que mensagem deixarias para os jogadores?
RPA » Que nunca se esqueçam que a única forma de trabalhar para alcançar objetivos grandes é com uma dedicação ainda maior. A única forma de conseguir o que nos propomos atingir num desporto coletivo, mais do que as qualidades individuais de cada um, acima de tudo está o compromisso coletivo que apresentamos e que nunca podemos colocar em causa. E finalmente que a exigência que temos com os outros, devemos ter primeiro connosco próprios. Ser exigente não é pedir demais… É apenas ser justo!