Gonçalo Mendonça, Coordenador da Formação do Leões Porto Salvo, faz uma reflexão sobre o impacto do futsal e o que poderia ser feito em prol de tornar um jogo mais atrativo e equilibrado nas camadas mais jovens.
” Dedicamo-nos, diariamente, a um escalão de iniciação – Benjamins – que abrange idades muito baixas, mas que acaba por participar num jogo com as mesmas regras que um jogo de adultos.
Não podemos dizer que este jogo, com as suas regras, seja prejudicial para crianças destas idades, mas, na minha opinião, se algumas regras fossem revistas o jogo tornar-se-ia mais adequado a esta faixa etária.
As dimensões do campo e a obrigatoriedade de todos jogarem um tempo idêntico, são apenas dois pontos em que se poderia atuar, mas há outros que, não retirando a essência do jogo, poderiam ajudar a tornar o jogo mais apelativo e mais ajustado a todas as crianças.
Uma vez que, neste momento, não temos qualquer hipótese de alterar, ajustar, retirar ou acrescentar, oficialmente, qualquer regra, o meu objetivo, com este contato, é o de sugerir a adoção de um comportamento, nas nossas equipas, como se de uma regra do jogo se tratasse.
Gostaria de ver jogos mais equilibrados, não só ao nível dos resultados, mas também, com mais usufruto por parte de todas as crianças (tocarem todas muitas vezes na bola). Tenho consciência de que isto é quase impossível de garantir e, por mais que pense em possíveis soluções, não consigo encontrar uma regra que o garanta.
Sabemos que nas idades mais baixas as equipas com melhores jogadores tendem a ganhar sempre pois as diferenças entre jogadores são mais evidentes.
Neste contexto, identifico um momento específico – que, inclusivamente já me foi apontado por algumas crianças como sendo talvez o momento mais embaraçoso para elas – que é quando o guarda-redes tem a bola na mão.
Neste momento, se o guarda-redes sentir uma grande pressão e não souber como reagir, acaba por ter de meter a bola em jogo. Muitas vezes, a bola é recuperada, de imediato, pelo adversário surgindo uma nova situação de finalização, vantajosa, que faz com que o jogo fique reduzido a 10 metros e com um sentido único.
Na minha opinião, podemos e devemos criar uma regra que facilite esta reposição e não pensar que o guarda-redes têm de encontrar uma solução rápida, seguindo uma série de movimentos pré-definidos (saídas de pressão).
Facilitar este momento, baixando a defesa para o meio campo, irá permitir, não só que o guarda-redes reponha a bola em jogo de forma facilitada, como que a equipa com mais dificuldade tenha, pelo menos, a hipótese de iniciar um ataque, ainda que possa não conseguir, na mesma, sair do seu meio campo.
A minha sugestão está neste ponto: pedirmos que a nossa equipa recue para o nosso meio campo sempre que o guarda redes adversário tenha a bola na mão, ficando depois ao critério de cada um que comportamento a equipa deve assumir assim que a bola seja reposta.
Esta situação não descaracteriza o jogo e pode, eventualmente, servir de ajuda para as equipas menos fortes usufruírem um pouco mais do jogo e talvez evitar grandes goleadas.
Confesso que tenho sentido algumas dificuldades ao tentar implementar esta solução em todos os jogos das minhas equipas (não pedindo para recuarem para o meio campo, mas para recuarem para trás dos 10m ofensivos), mas vou continuar empenhado em implementar esta “regra”, passando a pedir que recuem para o meio campo defensivo.
Tenho reparado que há equipas que, por norma, recuam, embora não saiba com que objetivo. Gosto de pensar que o objetivo é o mesmo que defendo nesta missiva e congratulo os meus colegas, se for o caso. Comprometi-me a tentar que todos o fizéssemos, com o grande objetivo de permitir ao adversário ter alguma posse de bola.
Tenho perfeita noção de que esta regra fará mais sentido para determinadas equipas, mas eu estou a pensar de uma forma mais global. Sou treinador dos Benjamins do C.R.Leões de Porto Salvo, mas interesso-me e preocupo-me com a formação do futsal no geral. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudar todas as crianças. Acredito que com medidas destas, ganham as crianças, ganham clubes, ganham seleções e ganhará muito o futsal.”
Gonçalo Mendonça
Coordenador Formação LPS